Toda história ou narrativa é contada por um narrador, que não deve ser confundido com o autor, pessoa real. O narrador conta a história a partir de um determinado ponto de vista, que pode ser o de quem participa ou o de quem observa a narrativa. A este ponto de vista chamamos foco narrativo, que pode ser em primeira ou em terceira pessoa.
De acordo com foco narrativo, temos, basicamente, três tipos de narrador: o onisciente, o observador e o personagem.
Narrador onisciente
Narrador onisciente é o narrador em terceira pessoa que sabe tudo sobre a história que conta, inclusive sobre o mundo interior das personagens, revelando seus pensamentos e emoções mais profundas.
Existem duas categorias de narrador onisciente: neutro e seletivo. O neutro é aquele que não procura influenciar o leitor, induzindo suas opiniões a respeito do relatado. O seletivo é o que narra os fatos sempre com a preocupação de influenciar no julgamento do leitor acerca de um fato ou personagem.
Como exemplo de narrador onisciente, apresentamos o seguinte fragmento do conto “O poço”, de Mário de Andrade:
Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado daquelas cinco léguas de fordinho cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro era de pouco riso mesmo, já endurecido por setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e taciturno. [...]”
Narrador observador
O narrador observador é aquele que, como o próprio nome já revela, conta a história que observa de fora, em terceira pessoa, sem participar. Tem como característica relatar os fatos com objetividade e de forma imparcial, desconhecendo o íntimo dos personagens. Conta, portanto, apenas o que vê.
É o tipo de narrador mais comum nas obras literárias clássicas, a exemplo do romance “Miguel Strogoff”, de Júlio Verne, do qual reproduzimos o seguinte trecho:
Aos quatorze anos, Miguel Strogoff, que desde os onze acompanhava o pai nas frequentes incursões pela estepe, matara seu primeiro urso. A vida na estepe dera-lhe uma força e resistência incomuns e o rapaz podia passar vinte e quatro horas sem comer e dez noites sem dormir, sem aparentar excessivo desgaste físico, conseguindo sobreviver onde outros em pouco tempo morreriam. Era capaz de guiar-se em plena noite polar, pois o pai lhe ensinara os segredos da orientação – valendo-se de sinais quase imperceptíveis na neve e nas árvores, no vento e no voo dos pássaros. [...]”
Narrador personagem
O narrador personagem, que narra em primeira pessoa, recebe este nome porque participa da história, seja como protagonista (personagem principal) ou personagem secundária.
Este tipo de narrador conta a sua versão particular da história, transformando o leitor numa espécie de cúmplice, com quem compartilha suas impressões pessoais sobre o ocorrido.
Vejamos o seguinte exemplo, retirado do conto “O dedo”, de Lygia Fagundes Telles:
Achei um dedo na praia. Eu ia andando em plena manhã de sol por uma praia meio selvagem quando, de repente, entre as coisas que o mar atirou na areia – conchas, gravetos, carcaças de peixes, pedras -, vislumbrei algo diferente. Tive que recorrer aos óculos: o que seria aquilo? Só depois de aparecer o anel é que identifiquei meu achado, o dedo trazia um anel. Faltava a última falange. [...]”
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